Distanciamento racial te fazia atravessar a rua bem antes do Corona

Rafaela Silva
2 min readDec 17, 2020

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Na musica “amarelo” de Emicida ele diz: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.” Acho, que Emicida se enganou, posso não ter morrido (ainda) esse ano, mas sei que não serei mais a mesma, acredito que ninguém será mais o mesmo.

Muitas pessoas morreram por conta do vírus, as vezes me pego sorrindo pelas coisas que conquistei neste ano, mas logo esse sorriso murcha. Não é justo, sabe? Me sinto mal em saber que muitos não estão sorrindo.

Mas não vim falar sobre as vidas que morreram por conta desse vírus, vim falar sobre vidas que são mortas diariamente sem ser causados pelo vírus.

Confuso não é? Eu sei!

O que ‘tô falando é: Se esse vírus acabar amanhã, ainda uma parcela de pessoas continuarão morrendo, jovens continuarão perdendo sua vida. E quem são essas pessoas? Pessoas negras do meu pais.

Duas coisas me marcaram neste ano de 2020, uma delas foi: O preto, pobre, marginalizado mesmo de quarentena morre, isso me faz lembrar do jovem João Pedro.

Menino, dentro de casa foi assassinado. Em meio a uma quarentena!

A outra coisa, foi que pobre não teve quarentena, pobre não teve opção — digo aqueles que trabalham e não podem ficar em casa, um exemplo disso é a criança Miguel, enquanto sua mãe trabalhava ele caiu ou melhor foi assassinado pela patroa.

Por conta da pandemia, não podemos mais ficar perto das pessoas, o distanciamento social aconteceu, mas mesmo antes do coronavírus isso já ocorria. Sei bem, que você trocava de calçada quando um preto estava vindo na sua direção.

Distanciamento racial te fazia atravessar a rua bem antes do Corona!

A negligencia do presidente em relação ao coronavírus, é exatamente a negligencia de vocês, em relação ao racismo. Esse ano, não será marcado somente pela pandemia, mas também por ver gente da minha cor, morrendo e ninguém falando ou fazendo nada.

É preto morrendo dentro de casa.

É preto sendo assassinado pela patroa.

É preto sendo assassinado dentro do mercado.

É preto sofrendo racismo no futebol.

É preto sendo morto com joelho no pescoço.

Toda hora é a mesma historia… 80 tiros, ainda me ferem e me machucam!

Para nós, deram apenas 600 reais de auxilio, uma bala na cabeça e um joelho no pescoço.

Gritar favela vive? ou eu não consigo respirar?

A vacina pode sair amanhã, mas o racismo acaba quando?

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